segunda-feira, 25 de junho de 2012

A educação pelo esporte


Raphaella Araújo é uma jovem muito sabida, como se diz no sertão. Desde criança, participa de atividades culturais na ONG Estação da Cultura, de Arcoverde. Gosta de teatro, discute políticas públicas e mostra equilíbrio tanto no discurso quanto quando está no alto de suas pernas de pau. Aos 19 anos, experimenta a aventura acadêmica. Cursa pedagogia numa faculdade local e continua envolvida nas atividades da organização que hoje ajuda a tocar. Em Pernambuco, a Estação da Cultura é parceira do UNICEF no programa Inspiração Internacional, que busca garantir o direito ao esporte a ao lazer a todas as crianças e adolescentes. Mesmo tendo mais intimidade com o lápis que com a bola, Rapha não demorou a perceber a importância da atividade física no desenvolvimento da garotada. O texto abaixo é o primeiro que ela escreveu para o blog que recém inaugurou: http://phaella.blogfacil.net/ Confira:

Educar é promover o desenvolvimento da capacidade intelectual, moral e física do indivíduo. O esporte está ligado diretamente à atividade física que, por sua vez, está intimamente relacionada ao ato de educar, entretanto, não é assim que o esporte vem sendo tratado.

            Comumente é possível observar a falta de uma proposta pedagógica para o esporte nas escolas, que na maioria das vezes aborda a questão do desenvolvimento físico isoladamente, sem considerar os aspectos morais e intelectuais, conjunto que proporciona uma educação mais completa. Assim, o que acontece muitas vezes em aulas de educação física é um mero condicionamento físico, uma atividade que pode ser desvalorizada no ambiente escolar, se continuar sendo vista desta forma.

            Teóricos da educação há milhares de anos remetem à ideia de interação entre esporte e educação e a relação direta entre o desenvolvimento físico e intelectual, exemplo disso é o pensamento socrático de 400 anos antes de Cristo, que entendia que o processo de formar o indivíduo para ser cidadão e sábio devia começar pela educação do corpo que permite controlar o físico. Platão (427-347 a.C.), discípulo de Sócrates, defendia que até os 10 anos de idade, a educação deveria ser predominantemente física e constituída de brincadeiras e esporte. A ideia era criar uma reserva de saúde para toda a vida.

           O Instituto Esporte e Educação-IEE, de São Paulo, desenvolve um trabalho de formação a partir de uma metodologia com esporte que propõe uma nova abordagem de competição, promovendo a cooperação, o respeito às regras e aos adversários.  Uma aprendizagem que se transforma em instrumento valioso para a educação e a interação entre as pessoas e o desenvolvimento integral do ser humano; além disso, entende que a criança pode brincar, mas não consegue fazer esporte, e que os maiores podem fazer esporte conservando as possibilidades de brincar.

          Para Froebel (1782-1852), as brincadeiras são o primeiro recurso pedagógico no caminho da aprendizagem, um modo de criar representações do mundo concreto com a finalidade de entendê-lo. A partir disso, Froebel desenhou círculos, esferas, cubos e outros objetos com o objetivo de estimular o aprendizado através dos jogos.

          É necessário pensar uma prática esportiva capaz de desenvolver as competências pessoais, produtivas, cognitivas e relacionais, e para isso, os instrutores, monitores, técnicos, professores de educação física, precisam de formação, informação e incentivo para a elaboração de uma metodologia que contemple o esporte educacional, o esporte para a cidadania.

         Neste sentido vem sendo realizado um trabalho em Arcoverde e em outros municípios da região, através do Programa Inspiração Internacional, do Fundo das Nações Unidas para a Criança e o Adolescente-UNICEF que, além da formação em parceria com o IEE, propõe o diálogo com o poder público, a realização de eventos esportivos com atividades lúdicas, a interação com o Conselho de Direito da Criança e Adolescente-CONDICA e o intercâmbio entre os municípios, um projeto que trará benefícios em longo prazo, e acarretará a mudança necessária na relação da escola com o esporte, e não só da escola, como também do poder público, da sociedade civil, do movimento cultural e de todos os que estão envolvidos com esporte.

          Este programa dá subsídio para o cumprimento da meta prevista no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, em suas ações programáticas, que visa apoiar ações de educação em direitos humanos relacionadas ao esporte e lazer, com o objetivo de elevar os índices de participação da população, o compromisso com a qualidade e a universalização do acesso às práticas do acervo popular e erudito da cultura corporal.

         O potencial educativo do esporte é grandioso, se tiver a atenção necessária e uma proposta inovadora e democrática; a contribuição dada à educação será capaz de mudar realidades, proporcionará a inclusão, a participação e o desenvolvimento pessoal; é preciso acreditar nisso, e contribuir para que projetos com este desenvolvido pelo UNICEF seja um exemplo para o Poder Público e a Sociedade Civil Organizada e um ponto de partida, pois todos nós, educadores, precisamos compreender os benefícios da multidisciplinaridade e despertar a importância da questão do esporte como formador de cidadãos e intelectuais, além de campeões.

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