domingo, 19 de junho de 2011

Literatura de textos literários nas aulas de Geografia

Poemas, romances e crônicas são um material valioso para mostrar, por pontos de vista diferentes, como o homem e o ambiente interagem

O ESPAÇO NA POESIA Alunos da EMEF Conde Pereira Carneiro estudam migração com Morte e Vida Severina
Foto: Marcos Rosa
"O meu nome é Severino, / como não tenho outro de pia/ Como há muitos Severinos,/ que é santo de romaria,/ deram então de me chamar/ Severino de Maria." Com esses versos tirados do livro Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto (1920-1999), a professora Tânia Pinto de Figueiredo, da EMEF Conde Pereira Carneiro, em São Paulo, começou uma aula para a 8ª série sobre o processo migratório brasileiro. 

A Geografia, disciplina que Tânia leciona, mostra sob variados ângulos o ambiente em que vivemos - formado por paisagens naturais e culturais em transformação - e ensina como lê-lo. Nos textos de informação, o sertão de Severino, por exemplo, é descrito de forma bem diferente da encontrada na produção de Melo Neto ou de outros escritores e poetas. "A literatura é capaz de dar uma visão mais humanística do espaço geográfico, complementar à que a moçada conhece dos mapas e materiais didáticos", diz Sueli Furlan, docente da Universidade de São Paulo (USP) e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. Por isso, ela pode ampliar e facilitar o aprendizado desses conteúdos.
 

"O texto literário, além de gostoso de ler, é uma fonte histórica", completa Sueli. De acordo com ela, são muitas as obras ricas em conteúdos sobre o espaço geográfico.
 Grande Sertão: Veredas eManuelzão e Miguilim, de Guimarães Rosa (1908-1967), Os Sertões, de Euclides da Cunha (1866-1909), Macunaíma e Paulicéia Desvairada, de Mario de Andrade (1893-1945), são bons exemplos. 


As crônicas também oferecem diferentes retratos da sociedade 
Não só os romances e as poesias são indicados para esse tipo de trabalho. As crônicas também oferecem um panorama da sociedade em diferentes épocas e locais. Os textos da coluna de Clarice Lispector no jornal
 Comício, reunidos no livro Correio Feminino, são uma alternativa valiosa. Com eles, é possível abordar o papel da mulher. "O lar é o lugar onde devemos encontrar a nossa paz de espírito num ambiente limpo, sadio e agradável, e cabe à mulher providenciar isso. (...) A dona de casa é a que faz da sua casa o lugar de descanso e felicidade do marido e dos filhos." O trecho escrito por Clarice pode causar estranheza em muitas mulheres de hoje, mas no início da década de 1950, na época em que foi publicado, era um retrato fiel do dia a dia de milhões de brasileiras. 

"Valendo-se dos 'pequenos textos inofensivos' sobre o comer, o vestir, o enfeitar-se, a autora instiga as leitoras a refletir sobre as duas realidades em que se encontra a sociedade: o mundo das simulações e o da verdadeira natureza das coisas", defende Aparecida Maria Nunes, no prefácio do livro. Ao ler os conselhos que a escritora dava às mulheres em meados do século passado e compará-los com o cotidiano atual, o aluno compreende as mudanças na relação homem mulher nos últimos anos e entende que o espaço geográfico está sempre em transformação.
Ler em Todas as Disciplinas
NOVA ESCOLA está lançando uma edição especial sobre o papel da leitura do 6º ao 9º ano. O material traz reportagens sobre os gêneros de texto privilegiados pelas oito disciplinas, apresentando os procedimentos de apoio à leitura mais usados. Tudo para ajudar o aluno a entender o que lê. A revista chega às bancas no dia 27 de novembro por 4,90 reais.


Dois caminhos são válidos na hora de usar a ficção 
Para trabalhar os textos literários em Geografia, o professor precisa definir os objetivos da leitura e escolher as publicações que melhor se adaptem aos conteúdos a serem ensinados. Os pontos que serão focados devem estar claros. Definido o livro, há duas opções: usar a obra para finalizar o estudo de um assunto e ilustrar os conteúdos que a turma aprendeu nas aulas anteriores ou apresentá-la aos alunos para dar início à discussão de um tema que será aprofundado com o apoio do livro didático.
 

Essa última foi a opção da professora Tânia para explicar a migração no Nordeste do país. Ao levar para a sala o livro
 Morte e Vida Severina - que conta a saga do retirante Severino ao deixar o sertão da Paraíba em busca de um futuro melhor na capital -, ela aproveitou, além da descrição da paisagem, os detalhes sobre a vida da população (leia a sequência didática). 

Para começar a leitura em sala, ela mostrou aos jovens apenas a capa da obra e pediu que eles levantassem hipóteses sobre a história. O que o título sugere? Será que "vida severina" se refere à vida de uma pessoa que tem esse nome? As respostas foram variadas e cada um anotou as impressões que tinha numa ficha. Terminado o aquecimento, ela contou à turma quem é o autor, falou um pouco sobre a vida e as ideias dele e explicou a trama. Depois, escolheu os trechos que tinham uma relação próxima com o conteúdo geográfico a ser abordado.
 

Tânia leu o seguinte trecho em voz alta para a turma: "(...) Vejamos: é o Severino/ da Maria do Zacarias,/ lá da serra da Costela,/ limites da Paraíba. (...) Somos muitos Severinos/ iguais em tudo e na sina:/ a de abrandar estas pedras/ suando-se muito em cima/ a de tentar despertar/ terra sempre mais extinta/ a de querer arrancar/ alguns roçados da cinza".
 

Esse foi o passaporte para que os adolescentes entrassem na história e vivenciassem, por meio do texto, a seca do sertão nordestino. Uma série de perguntas surgiu com base nos versos. Tânia, então, direcionou o olhar da classe para temas específicos da disciplina: onde se passa a história? Como é o clima nessa região? E a terra, é fértil? "Para entender o universo e suas transformações, o aluno precisa aprender a ler e entender o texto. O professor deve ajudar nisso", defende a professora. Ao conduzir a aula desse modo, ela detalhou os conteúdos que seriam trabalhados nas aulas seguintes, tornando-os mais próximos da turma.






Como trabalhar textos literários nas aulas de Geografia
Sueli Furlan, docente da Faculdade de Geografia da USP e selecionadora do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10, comenta as possibilidades de enriquecer o trabalho em sala de aula por meio da leitura de textos da literatura nacional e estrangeira.








Utilizar a leitura de textos literários como artifício para o ensino de Geografia é uma das formas mais inovadoras de trabalhar conteúdos, por vezes, complexos e desanimadores para os alunos. O ensino de Geografia por meio desse tipo de leitura enriquece o universo teórico e critico do aluno, fazendo com que o mesmo interaja com o assunto ensinado em sala, e ao mesmo tempo, consiga associar esse conhecimento aos textos literários, ou seja, levando em consideração o clima e a região.

 Dessa forma, o aluno irá aprender de maneira interativa e certamente, aprenderá melhor o conteúdo, pois os conceitos geográficos estudados serão associados aos contextos dos  textos literários.  

Caso queira saber mais sobre o assunto, acesse o site: www.novaesocla.com.br



Um comentário: